4 de janeiro de 2011
Só Lamentos
19:19 |
Postado por
Gil
Hoje pela manhã, quando dirigia-me a um Posto de Assalto Eletrônico do ramo Transporte Público, popularmente conhecido como "Salvador Card", experimentei o primeiro engarrafamento do ano.
Aconteceu por que lá entre a Av. Vasco da Gama e o Dique do Tororó, alguns estudantes protestavam contra o aumento mais uma vez abusivo das tarifas de onibus, em outras palavras, "contra o assalto coletivo-diário na passagem do busú".
Transito congestionado, onibus lotado, manifestação... quase tudo normal no cotidiano na nossa "querida" Capital do Axé. O único porém se dava na reação dos cidadãos de bem que me cercavam naquela banheira da Empresa Rio Vermelho. A começar pelo Cobrador que se juntou ao motorista para lançar comentários sordidos sobre os manifestantes.
Das suas bocas (espero de verdade que tenha sido somente das bocas) saíam coisas como: "Isso aí é uma meia duzia de vagabundos querendo aparecer, tumultuar" ou "Essa turma não tem condição, como faz uma manifestação num horário desses que as pessoas estão indo trabalhar".
Confesso que me segurei pra não ficar discutindo, e logo me lembrei das greves de rodoviários quase semestrais em nossa cidade na luta por AUMENTO.
É, farinha pouca, o meu pirão primeiro. Logo eles, que param o dia inteiro e que deixam a cidade toda em estado de alerta e sem condições de se locomover, agora vem reclamar.
Mal sabia eu que o pior estaria por vir. Como falei, os estudantes estavam fazendo o seu protesto "Exú Tranca Rua" no cruzamento de duas avenidas, e por isso as ruas ficaram realmente intrasitáveis. Essa situação obrigou as linhas de onibus a fazerem a volta cerca de 300 metros antes do destino e os passageiros, entre eles eu, tivemos que descer e seguir o caminho andando.
Para o meu espanto, desapontamento, decepção, tristeza, pena e todos os sentimentos piedosamente negativos que posso expressar nesse momento, tive o desprazer de ouvir das várias bocas que me cercavam, (agora não apenas os cidadãos do meu onibus, mas de outros coletivos) reclamações, verdadeiras ojerizas aos colegas cidadãos que lutavam sob o sol forte pelo direito deles e também pelos nossos.
Coisas como: "Olha lá, bando de moleques, brigando por causa de 0,20 centavos", "Num querem pagar 20 centavos na passagem, mas querem pra tomar cachaça", "Num sei pra quê isso, num vai resolver nada mesmo".
E enquanto eu caminhava rumo à central da quadrilha, percebia o quanto aquelas cabeças lamentavam mais os 300 metros a pé do que o assalto a mão armada (catraca e máquina de cartão) que sofremos cotidianamente. E o pior, desvalorizavam a bravura e o empenho da turma que se propunha a brigar, por sí mesmo e pelos outros.
Pois bem, a caminhada e as conversas iam ficando distante enquanto me aproximava do ponto de extorsão com aval do poder público e as respostas ficaram engasgadas.
Sei que falar aqui não vai levar nada a lugar nenhum, mas fica como mais um escape.
Que fique bem claro, que essa meia dúzia de vagabundos eram quase 100 estudantes (acho) embandeirados, vestidos de preto lutando por um transporte justo e uma tarifa condizente com a realidade social desta capital. Que fique bem claro que estudante não é vagabundo, e que ocupar as ruas é um ato de CIDADANIA. Que fique claro também que manifestação pública tem que causar transtorno e apelo para que possa ser vista, ouvida e discutida. Aos meus colegas do onibus, lamento por seus votos de capacho em prefeitos, vereadores, governadores, e presidentes que atendem apenas aos próprios bolsos. Lamento também por sua visão limitada, que não enxerga um palmo alem do próprio umbigo, pois 0,20 centavos que saem dos seus bolsos geram desigualdade social e gera prejuízo pra a própria vida.
Finalmente, me sinto impotente, não apenas por não participar diretamente da manifestação, mas por saber que terei que aceitar ser assaltado, humilhado, subjulgado diariamente para sobreviver junto com meus infames colegas cidadãos dessa cidade.
E que venha o Carnaval!
Aconteceu por que lá entre a Av. Vasco da Gama e o Dique do Tororó, alguns estudantes protestavam contra o aumento mais uma vez abusivo das tarifas de onibus, em outras palavras, "contra o assalto coletivo-diário na passagem do busú".
Transito congestionado, onibus lotado, manifestação... quase tudo normal no cotidiano na nossa "querida" Capital do Axé. O único porém se dava na reação dos cidadãos de bem que me cercavam naquela banheira da Empresa Rio Vermelho. A começar pelo Cobrador que se juntou ao motorista para lançar comentários sordidos sobre os manifestantes.
Das suas bocas (espero de verdade que tenha sido somente das bocas) saíam coisas como: "Isso aí é uma meia duzia de vagabundos querendo aparecer, tumultuar" ou "Essa turma não tem condição, como faz uma manifestação num horário desses que as pessoas estão indo trabalhar".
Confesso que me segurei pra não ficar discutindo, e logo me lembrei das greves de rodoviários quase semestrais em nossa cidade na luta por AUMENTO.
É, farinha pouca, o meu pirão primeiro. Logo eles, que param o dia inteiro e que deixam a cidade toda em estado de alerta e sem condições de se locomover, agora vem reclamar.
Mal sabia eu que o pior estaria por vir. Como falei, os estudantes estavam fazendo o seu protesto "Exú Tranca Rua" no cruzamento de duas avenidas, e por isso as ruas ficaram realmente intrasitáveis. Essa situação obrigou as linhas de onibus a fazerem a volta cerca de 300 metros antes do destino e os passageiros, entre eles eu, tivemos que descer e seguir o caminho andando.
Para o meu espanto, desapontamento, decepção, tristeza, pena e todos os sentimentos piedosamente negativos que posso expressar nesse momento, tive o desprazer de ouvir das várias bocas que me cercavam, (agora não apenas os cidadãos do meu onibus, mas de outros coletivos) reclamações, verdadeiras ojerizas aos colegas cidadãos que lutavam sob o sol forte pelo direito deles e também pelos nossos.
Coisas como: "Olha lá, bando de moleques, brigando por causa de 0,20 centavos", "Num querem pagar 20 centavos na passagem, mas querem pra tomar cachaça", "Num sei pra quê isso, num vai resolver nada mesmo".
E enquanto eu caminhava rumo à central da quadrilha, percebia o quanto aquelas cabeças lamentavam mais os 300 metros a pé do que o assalto a mão armada (catraca e máquina de cartão) que sofremos cotidianamente. E o pior, desvalorizavam a bravura e o empenho da turma que se propunha a brigar, por sí mesmo e pelos outros.
Pois bem, a caminhada e as conversas iam ficando distante enquanto me aproximava do ponto de extorsão com aval do poder público e as respostas ficaram engasgadas.
Sei que falar aqui não vai levar nada a lugar nenhum, mas fica como mais um escape.
Que fique bem claro, que essa meia dúzia de vagabundos eram quase 100 estudantes (acho) embandeirados, vestidos de preto lutando por um transporte justo e uma tarifa condizente com a realidade social desta capital. Que fique bem claro que estudante não é vagabundo, e que ocupar as ruas é um ato de CIDADANIA. Que fique claro também que manifestação pública tem que causar transtorno e apelo para que possa ser vista, ouvida e discutida. Aos meus colegas do onibus, lamento por seus votos de capacho em prefeitos, vereadores, governadores, e presidentes que atendem apenas aos próprios bolsos. Lamento também por sua visão limitada, que não enxerga um palmo alem do próprio umbigo, pois 0,20 centavos que saem dos seus bolsos geram desigualdade social e gera prejuízo pra a própria vida.
Finalmente, me sinto impotente, não apenas por não participar diretamente da manifestação, mas por saber que terei que aceitar ser assaltado, humilhado, subjulgado diariamente para sobreviver junto com meus infames colegas cidadãos dessa cidade.
E que venha o Carnaval!
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The Trooper
- Gil
- Estudante de Produção Cultural - UFBA . Diretor do Grupo J.O.I.A. . Divergente Produções . Editor e Colunista da Coluna Underground
In_ Devaneio (Abaetê Guarani)
"Os homens podem morrer, mas as boas idéias duram pela eternidade."
2 comentários:
Aaaaamém!
Infelizmente isso acontece nesse nosso amado país.
Ainda bem que existem pessoas como você que conseguem perceber estes desatinos e se colocam contra estes disparates.
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